terça-feira, 15 de novembro de 2011

Uma Mulher de Opinião
Oieeeeeeeeeeeee pessoal! Como estão vocês?espero que bem...essa semana,a taty mandou para mim,uma entrevista com a D.Dilma ,mãe da Vanessa,eu até já tinha lido essa entrevista,mais a muito tempo atrás e já nem me lembrava mais,até que depois que reli,me dei conta de que já havíamos falado do irmão e do pai da Van e algumas vezes citamos a mãe dela,mais nunca passou de uma simples citação,dai,procurei mais fotos e entrevistas dela e da Van,para compor o post de hoje,que como já puderam ver,será sobre a Dilma Lóes,mãe da Vanessa,mais acima disso,uma mulher de personalidade forte,um grande caráter ,grandes opiniões e uma pessoa que pode ser considerada uma mulher a frete de seu tempo

Depois que conheci  um pouco mais sobre a Dilma,percebi a quem a Vanessa puxou e de quem herdou essa personalidade dela.A Dilma,é uma mulher extraordináriamente incrível ,com uma forma de pensar e uma visão de mundo,simplesmente surreal,tenho certeza que deve ser uma excelente pessoa de se conviver.
Aproveitando a oportunidade,deixo aqui a minha verdadeira  admiração e respeito a senhora Dilma Lóes.
E com vocês,Dilma Loes



A carioca Dilma Lóes é o ponto de ligação de uma família que há três gerações está nas telas do cinema e na telinha da televisão - sua mãe é a atriz Lídia Mattos, e sua filha é a também atriz Vanessa Lóes. Atriz, roteirista, produtora e diretora, Dilma Lóes participou ativamente do cinema brasileiro dos anos 70. Por seu trabalho em "A Volta do Filho Pródigo", em 1978, de Ipojuca Pontes, recebeu o prêmio de Melhor Atriz de Cinema pela APCA - Associação Paulista de Críticos de Artes, e brilhou em comédias da época como o delicioso "Essa Gostosa Brincadeira a Dois", em que fez inesquecível parceria com Carlo Mossy, em filme de Victor di Mello. Aliás, di Mello - com quem foi casada, e Alberto Salvá foram dois dos mais importantes cineastas com os quais Dilma trabalhou.
Em entrevista realizada por meio de inúmeros e-mails, Dilma Lóes refaz sua trajetória desde os primeiros passos na carreira, relembra as primeiras produções, os trabalhos na televisão e no teatro, os filmes que mais gostou, as pornochanchadas, "Algumas pornochanchadas eu gostava muito (e de pornô não tinham nada). Outras achava de mau gosto. Todas tinham uma mesma característica que era mostrar só o ponto de vista masculino, já que na época só os homens faziam os roteiros, só os homens dirigiam os filmes e só os homens produziam. Então na tela era visto só uma parte da realidade".Fala sobre sua passagem de atriz para outras áreas do cinema, como o roteiro: "Eu gostava de criar as cenas de comédia.Tentava forçar uma barra para ser feito um roteiro com mais conteúdo".
Dilma Lóes fala também sobre os filmes que dirigiu, sua mudança para os Estados Unidos, sua volta para o Brasil e os novos projetos. Faz homenagem à mãe Lidia Mattos, e à saudosa atriz Cléa Simões. Entre os prêmios que recebeu, além do APCA, estão os por "
Só o amor não basta´ - Melhor Filme em 16mm - Festival de Brasília - 1978; `Nossas Vidas´ - Melhor Vídeo - II Festival de Vídeo de Fortaleza - 1989; `Quando o Crioulo Dança?´ - Melhor Direção - Jornada de Cinema da Bahia - 1989.

 


Mulheres: Qual é a sua formação de atriz? Começou pelo teatro, TV ou cinema?

Dilma Lóes: Formação prática. Só fiz um curso de teatro depois de uns 13 anos de profissão. Comecei fazendo figuração em tv no programa do Agildo Ribeiro e Paulo Silvino, chamado “ TV Ó canal zero”

Mulheres: Como foi a convivência com a família de artistas (pai e mãe)? Isso te influenciou na escolha da carreira artística?

Dilma Lóes: A convivência foi muito saborosa, mas também dolorosa. Saborosa porque quase todos os finais de semana a casa ficava cheia de amigos que iam pra lá cantar e fazer música. Meu pai era letrista, minha mãe fazia música e era uma grande alegria aquela cantaria nos finais de semana. O lado doloroso era a falta de tempo deles para participarem mais do dia-a-dia dos filhos.

Naquela época, existia um grande preconceito contra artista. Era discriminada na escola por professores só porque era filha de artista, que era considerado meio marginal, persona non grata. Tudo foi fluindo naturalmente para que eu seguisse os mesmos passos dos meus pais, já que cresci numa atmosfera de expressão artística, era naquele ambiente que me sentia confortável.


Mulheres: Você estreou no cinema fazendo duas produções estrangeiras. Como se deu isso?

Dilma Lóes: Estava fazendo figuração num filme espanhol chamado “ Sumuru, o Beijo da Morte”, e Roberto Baker, o produtor do filme, me chamou para fazer um teste para ser protagonista do episódio brasileiro de um seriado francês chamado “Les Globbe Troter”. Como o diretor do filme não tinha encontrado uma atriz profissional com o tipo físico que ele queria, abriram teste para amadoras, fiz o teste e ganhei o papel.

O segundo filme foi uma produção da Universal Pictures dirigida por paul Stanley, com Vic Morrow e Edmond O’Brain. Eles estavam fazendo teste com atrizes entre 25 e 28 anos que falassem inglês fluente. Eu não falava inglês e tinha 18 anos. Fui lá com uma maquiagem pesada, peruca preta comprida, cílios postiços, aparentando uns 25 anos. Pedi o texto à produção, decorei com uma tia que era professora de inglês, fiz o teste e fui aprovada. Quando o diretor veio conversar comigo em inglês, ficou surpreso que eu não falava a língua porque achou a minha pronúncia ótima.

Mulheres: E no cinema brasileiro, como foi a sua estréia?

Dilma Lóes: A estréia no cinema brasileiro foi com o filme “ Parafernália, o dia da caça”, de Francis Palmeira, um diretor sensível, gostei de fazer o filme.

Mulheres: Dá para você relembrar os quatro primeiros filmes brasileiros que trabalhou, e os respectivos diretores – Francis Palmeira, Mozael Silveira, Alberto Salvá, Geraldo Miranda e Pio Zamuner?

Dilma Lóes: “Parafernália, o dia da caça” foi um filme de produção independente, com pouco dinheiro. A garra e o idealismo do Francis contagiou todo o elenco. O segundo filme, “ Meu nome é lampião” (Mozael Silveira) foi uma produção do Roberto Farias com certo recurso e estrutura. O terceiro foi “ Vida e glória de um canalha”, de Alberto Salvá, com pouco recurso financeiro, mas muita criatividade, que é a marca registrada do Salvá. O quarto filme foi uma produção do Mazaropi, oficialmente dirigido pelo Pio Zamuner, mas era o Mazaropi que no final fazia tudo do jeito que ele queria, não respeitava ninguém, nem equipe, nem atores. Mas ele pagava três vezes mais do que os outros produtores e por isso as pessoas aceitavam trabalhar com ele.

Mulheres: E com o cineasta Alberto Salvá, com quem fez três filmes?

Dilma Lóes: Sempre gostei muito de trabalhar com o Salvá. Ele é um ótimo diretor. É sensível, aberto à idéias, deixa o ator criar. Ele é uma pessoa muito generosa e especial.

Mulheres: Gostaria que você comentasse sobre o filme "Revólveres Não Cospem Flores"?

Dilma Lóes: "Revólveres não Cospem Flores" foi um filme que adorei fazer. Adoro o Salvá. Ele é um diretor muito sensível, talentosíssimo, simples e instintivo, e usa a sensibilidade em benefício do filme e do trabalho do ator. É o diretor que mais gostei de trabalhar, que mais me senti à vontade, que mais me deixou livre para encarnar os personagens.

O personagem do "Revólveres não Cospem Flores" foi crescendo , tomando conta de mim, e ele foi deixando acontecer e interferindo o mínimo para não quebrar aquela energia forte que estava acontecendo. É o que considero um trabalho de arte, é como uma dança, em que quem leva é a música, a gente só tem que seguir. Se começar a entrar o racional, pensando que passo que vou fazer depois daquele, vai estragar tudo, porque vai virar uma fórmula, linha de montagem, todos dançando igual, sem alma. O "Revólveres" foi o resultado de um trabalho de expressão livre das almas, com momentos mágicos.

Mulheres: Como se deu o seu encontro com o cineasta Victor Di Mello, com quem veio a se casar?

Dilma Lóes: Nos conhecemos na Fiorentina, um restaurante no Leme, onde a classe artística frequentava nos anos 60 e 70.

Mulheres: Você e o Victor construíram uma parceria de sucesso no cinema. Dá para você
falar um pouco mais sobre isso?

Dilma Lóes: Eu e Victor Di Mello fomos parceiros em alguns filmes. O que nós dois tínhamos em comum era o desejo de fazer comédia. Humor pra nós dois era fundamental. A nossa grande diferença é que ele, talvez por pressão dos produtores que visavam sempre o lucro, ou talvez por ele mesmo, por ser homem e achar que era importante ter mulher nua nos filmes, tinha sempre essa preocupação de criar cenas de sexo com mulheres nuas.

Eu gostava de criar as cenas de comédia.Tentava forçar uma barra para ser feito um roteiro com mais conteúdo. O Victor me ajudava, tentava convencer os produtores, mas o foco maior era no que eles consideravam que dava dinheiro, que eram mulheres nuas. Então, dentro dos limites permitidos, fazíamos comédia e eu tentava introduzir algum conteúdo nas histórias.

Mulheres: Como se deu a passagem da atriz para as outras áreas? Foi influência do Victor di Mello, ou você já pensava nesses caminhos? Veio dessas experiências anteriores em época de colégio quando escrevia as peças e atuava?

Dilma Lóes: Na verdade nunca me senti uma profissional de alguma coisa. Sempre me expressei artisticamente de várias formas, desde criança. Já trabalhei em dezenas de profissões e gostei de todas justamente porque não me sentia uma profissional só daquilo. Gosto de sentir minha alma livre para fazer o que tiver desejo de fazer. Gosto de experimentar, de aprender, conhecer o novo, testar coisas novas, etc.

Considero meu melhor talento as minhas idéias, que podem ser expressas através de um roteiro,um conto, como também no projeto de uma casa, num novo passo de dança ou num projeto de melhoria social. Então, por ser desse jeito, não fico em nenhuma situação ( ou profissão) que sinta que esteja adormecendo meu potencial humano. Quando tinha 9 anos, escrevi e dirigi minha primeira peça de teatro na escola. Era um musical. Adoro música e dança, é uma das formas de expressão de que mais gosto.

Mulheres: E o teatro profissional?

Dilma Lóes: Trabalhei em três peças. Duas comédias ( adoro comédia) e uma infantil. A primeira foi em 1969, “Frank Sinatra, 4816”, com o Paulo Gracindo e Henriette Morineau, pela qual recebi o prêmio Diário de Notícias de atriz revelação de teatro de 1969. A outra peça foi “Vejo um Vulto na Janela, me Acudam que sou Donzela”, da Leilah Assunção, em 1981. A terceira peça foi o musica infantil “ Se a Banana Prender, o Mamão Solta”, de minha autoria e direção.

Mulheres: Como foi atuar em novelas?

Dilma Lóes: A primeira foi em 1968 na TV Tupi, “ O doce mundo de Guida” (direção de Cardoso Filho). A segunda foi “Pigmaleão 70”, dirigida por Regis Cardoso. Era uma comédia, adorei fazer. Depois foi “ O Bem amado”, dirigida por Regis Cardoso, também comédia, mas meu papel era sério. Atuei também em “Tempo de Viver”, direção de Marlos Andreucci, com Reginaldo Farias e Paulo César Peréio. Foi em 1972.

Além das novelas, trabalhei dois anos em “Os Trapalhões”, em que tive a grande felicidade de conhecer o Dedé Santana, pessoa extraordinária. Gostei de trabalhar nas comédias. Novela não combina muito com o meu temperamento.

Mulheres: Quais são os filmes que mais gostou de participar, seja como atriz ou em outras áreas?

Dilma Lóes: “River of Mistery” de Paul Stanley, “Revólveres não Cospem Flores”, do Alberto Salvá, “ Quando as Mulhers Paqueram” de Victor Di Mello , “ Essa Gostosa Brincadeira a Dois” de Victor Di Mello e “Quando o Crioulo Dança?”, dirigido por mim.

Mulheres: Como foi trabalhar na produção do único filme dirigido por Jô Soares, “O Pai do Povo”?

Dilma Lóes: Foi ótimo. Uma equipe harmônica, ótimos profissionais.

Mulheres: Gostaria que você comentasse sobre “Essa Gostosa Brincadeira a Dois” e a parceria com o Carlo Mossy nesse filme?

Dilma Lóes: “Essa Gostosa Brincadeira a Dois” foi uma delícia fazer. Mossy já tinha sido parceiro em outro filme. É um grande ator e grande amigo também. Foi muito bom trabalhar com ele.

Mulheres: O que você pensa sobre as pornochanchadas, as comédias eróticas da década de 1970, tão atacadas pela crítica na época?

Dilma Lóes: Algumas pornochanchadas eu gostava muito (e de pornô não tinham nada). Outras achava de mau gosto. Todas tinham uma mesma característica que era mostrar só o ponto de vista masculino, já que na época só os homens faziam os roteiros, só os homens dirigiam os filmes e só os homens produziam. Então na tela era visto só uma parte da realidade. O que a mulher sentia não era retradado naqueles filmes. Por isso gostei de participar do roteiro de “Quando as Mulheres Paqueram”, porque foi a introdução da visão feminina. Foi minha primeira participação em roteiro de longa metragem.

Alguns bons críticos não falavam mal, faziam uma boa análise do filme elogiando os pontos bons e criticando os ruins. Quando um crítico falava mal, mas o filme dava um bom retorno financeiro, os diretores não ficavam chateados. E os filmes costumavam ter um ótimo retorno.
Mulheres: O prêmio APCA foi por qual trabalho? Como foi receber esse prêmio tão importante?
Dilma Lóes: Fiquei muito feliz com o prêmio, não esperava. Foi por “A Volta do Filho Pródigo" (1978 - Ipojuca Pontes)..


Mulheres: Nos anos 1980, você passa para a direção. Como foram esses trabalhos?.

Dilma Lóes: O primeiro filme que dirigi foi um curta-metragem em 1972 chamado “ Morrendo a Cada Instante”, sobre a destruição do meio ambiente no Brasil. Eu tinha feito uma pesquisa e, já naquela época, 1000 árvores por dia eram arrancadas na Amazônia. O documentário terminava com uma cena de ficção em que pessoas andavam nas ruas usando máscaras contra poluição. O filme participou do festival JB de curta- metragem e, na época, como quase ninguém sabia sobre a destruição do meio ambiente no Brasil, a crítica falou mal do filme, chamando o filme de paranóico.

Mulheres: Dá para você falar mais sobre os filmes que produziu e/ou roteirizou e/ou dirigiu, especialmente "O Crioulo Dança?", além dos que já falou?

Dilma Lóes: Gosto muito de ver as pessoas felizes, por isso gosto de fazer comédia. Se vejo uma situação errada procuro ajudar a melhorar. Sempre fui assim. Arte pra mim é expressão pura da alma. Uma energia que sai da gente e atinge a alma de outras pessoas. Então quando vejo uma coisa errada e não tenho como mudar, vem logo uma idéia de um filme, um conto, um projeto social ou alguma ação que possa contribuir para melhorar aquela determinada situação.

Todos os documentários que produzi e dirigi foram resultados do desejo de mostrar uma situação que precisa ser mudada, etc. Foi assim com o "Morrendo a Cada Instante" em 1972, sobre a destruição da natureza. " Só Amor não Basta", em 1978, é sobre as mães de baixa renda que saíam de casa deixando seus filhos em péssimas condições para irem trabalhar. O documentário/ ficção " Nossas Vidas", em 1985, é um painel sobre a mulher brasileira da época. É um filme irreverente, com situações engraçadas, mas tratando de um assunto sério.

O documentário/ficção "Quando o Crioulo Dança", em 1988. Sempre me incomodou muito o racismo no Brasil, especialmente porque era velado, aí é muito difícil para uma pessoa negra dizer que era vítima de racismo, porque era chamada de louca, já que "no Brasil não existia racismo". Então aproveitei um concurso de roteiros promovido pela Ford Fundation sobre o racismo no Brasil para criar um roteiro onde pudesse falar tudo que pensava sobre o assunto e reproduzir cenas de racismo que as pessoas negras viviam no seu dia-a-dia, e, que de alguma maneira, pudesse tocar o coração das pessoas brancas.

O roteiro foi um dos vencedores e então a Fundação Ford produziu o vídeo. Quando o documentário ficou pronto, exibi em diversas organizações da comunidade negra e as pessoas choravam emocionadas por verem suas vidas bem retratadas no vídeo. Inscrevi o documentário em dois festivais, mas não foi classificado nem para a pré-seleção. Achei meio estranho o fato de que todos os negros que assistiam saíam tão emocionados e o filme não se classificar nem na pré-seleção. Em uma das exibições, convidei o Grande Otelo e, no final, ele me falou seriamente: Não perde seu tempo tentando entrar nos festivais daqui. Ninguém vai aceitar o seu documentário, porque todo mundo nega que existe racismo no Brasil. Manda o seu trabalho lá pra fora, que ele vai ser muito bem recebido. Ele é forte e sincero. Depois, se ganhar alguma coisa lá, todas as portas vão se abrir aqui.

Aí, já meio descrente de qualquer coisa e deprimida porque não conseguia exibir o documentário, juntei minhas últimas forças, pensando nas palavras do Grande Otelo e enviei o documentário para o festival de Nova York, onde ganhou medalha de Bronze, competindo com mais de 3.000 documentários. Depois disso, claro, o filme começou a ser exibido e aceito nos festivais.

Dez anos depois, o Ministério da Educação comprou 3.000 cópias e incluiu o documentário no treinamento dos professores da rede pública, em um trabalho contra a discriminação racial dentro das salas de aula.

O roteiro do filme de ficção de um minuto "A Regra da Noite", em 1992, foi fruto da minha necessidade de fazer comédia. O roteiro acabou premiado no Festival de Vítória.

Mulheres: Por que você se mudou para os Estados Unidos? Como foi a experiência lá?

Dilma Lóes: Porque perdi o interesse em viver no Brasil. Muita violência, minha casa tinha sido invadida, meu filho, na época com 9 anos, ficou apavorado, não queria mais dormir sozinho, não queria mais morar no apartamento, aí achei que era a hora de sair e mostrar pra ele que Brasil era um pedacinho bem pequeno do planeta, que existiam muitos outros lugares onde a vida era diferente daqui. A experiência foi maravilhosa em todos os sentidos, pra mim e para o meu filho.

Lá é um exemplo concreto de uma sociedade democrática, em que todos podem prosperar porque o dinheiro circula em toda sociedade, não fica retido nos bolsos de poucas pessoas como acontece aqui. Qualquer trabalho é bem remunerado, qualquer pessoa pode prosperar. O sistema funciona muito bem. Na primeira semana que estava lá, meu filho ficava brincando nas rua porque tinha acabado de chegar e ainda estava vendo escola pra ele. De repente, um policial bate na minha porta perguntando porque ele não estava na escola e eu expliquei que tinha recém-chegado do Brasil, e ele me disse que toda criança tinha que ficar na escola, senão os pais vão presos. Me deu uma semana para colocar meu filho na escola. O ônibus da escola pegava o meu filho na porta e trazia de volta.

Outro mundo, outras possibilidades. Respeito, educação e segurança passaram a fazer parte dos meus dias. E quanto mais distante, mais claro ficava pra mim que a estrutura social do Brasil mudou muito pouco desde a invasão dos portugueses em 1500. Tudo girava em torno dos interesses da corte portuguesa que só tirava as riquezas daqui sem dar nada. Sempre roubando, escravizando. A renda continua retida nos bolsos de poucos, não circula, muito poucos podem prosperar.

Nos Estados Unidos me realizei trabalhando em diversas coisas. Tive uma empresa de exportação por 8 anos, me formei em hipnose e regressão de vidas passadas, me espiritualizei, tratei de pessoas, escrevi contos para um jornal brasileiro e trabalhei na HBO fazendo trailers para o Brasil.

Mulheres: Como foi voltar ao Brasil, depois de tantos anos?

Dilma Lóes: No primeiro ano foi muito difícil. É uma total desadaptação. Você já não é a mesma pessoa, já não vê o mundo da mesma maneira que antes, não gosta das coisas que antes gostava e gosta de outras que são estranhas aos seus amigos. Alguns amigos já não tem mais nada em comum com você e você com eles, seus valores mudaram, mas você volta para o mundo de antigamente e isso é muito estranho. Demora um tempo pra construir uma nova vida com seus novos amigos, que você nem sabe ainda quem são e onde estão. Reacostumar com a má distribuição de renda que só permite poucos prosperarem na vida... difícil. No segundo ano, foi menos pior.

Agora, o lado muito bom foi estar novamente perto da família, da Vanessa, da minha mãe, que são pessoas muito importantes pra mim, e também dos amigos que são para sempre, aqueles poucos que sobrevivem a todas as mudanças. A Cléa Simões, uma grande atriz a quem era muito apegada e que foi minha madrinha de casamento, uma mulher extraordinária e uma heroína por ter conseguido se firmar como atriz, num Brasil tradicionalmente racista, e que por décadas negou esse racismo, mas confinou os atores negros aos papéis de subalternos. À Cléa Simões, aqui fica aqui minha homenagem e muita, muita saudade.

Mulheres: Você faz parte de uma família de artistas há três gerações. Como foi atuar ao lado da sua filha, Vanessa Lóes, em “O Amigo Dunor”?

Dilma Lóes: A Vanessa é uma artista nata, especialmente para artes plásticas e pintura. Desde pequena se destacava na escola com seus desenhos e a habilidade para as artes. Ela fez o filme quando tinha 8 anos. Fez muito bem, está muito natural no filme. Como fiquei fora 10 anos, não acompanhei a carreira da Vanessa. O que eu vi, gostei. Assisti alguns tapes dos trabalhos dela que ela levava quando ia me visitar em Miami.

Mulheres: Você está envolvida atualmente em algum projeto? Cinema, televisão, teatro? Não anda com saudades das telas?

Dilma Lóes: Tenho três projetos que penso em fazer um dia, mas não por agora. Dois longas-metragens e um documentário média-metragem. Os longas são ficção. Um é um argumento que tenho há quase 30 anos chamado " João virou doutor", ambientado no Rio dos anos 60, e o outro é o filme da peça infantil que fizemos " Se a banana prender, o mamão solta", um musical lindo e engraçado. Esses dois daria para alguém dirigir. "O João virou doutor" só consigo imaginar o Bruno Barreto dirigindo. O infantil, não pensei em ninguém.

O documentário de media-metragem tem o título " O Brasil que poucos conhecem" É um trabalho de pesquisa, que, na verdade, já estou fazendo há alguns anos, mas preciso ainda ir à Portugal, na Torre do Tombo, onde estão todas as informações das primeiras pessoas expulsas para o Brasil pela inquisição. A maioria eram judeus que foram forçados a se converterem ao catolicismo, se separarem de seus familiares e vieram viver no Brasil. Aqui, alguns ainda tentaram cultivar sua cultura, mas eram perseguidos pela inquisição, acusados de serem "judiazantes". Muitos espalharam-se pelo nordeste e pararam de praticar sua religião, mas a cultura enraizada no jeito de ser foi transmitida através de muitas gerações. Então muitos de nós e muito da cultura brasileira é de origem judaica, mas a maioria não sabe.

Mulheres: Qual foi o último filme brasileiro que assistiu?

Dilma Lóes: O último filme foi “O Dia em Que Meus Pais Saíram de Férias” (2006, Cao Hamburger). Gostei muitíssimo.

Mulheres: Sempre convido minhas entrevistadas para homenagear uma mulher de qualquer época e área do cinema brasileiro. Quem você quer homenagear?

Dilma Lóes: A homenagem vai para a minha mãe Lidia Mattos, de quem sou grande fã como atriz e como pessoa especial que é, de generosidade rara, amiga de todas as horas, irreverente, filósofa e balofuda (apelido mais recente). À ela, obrigada por ter vindo ao mundo e ser exatamente como é.

Dilma Lóes: Um fato curioso que talvez posa ajudar outras pessoas que passem por situações parecidas.

Em 1985, descobri que ser atriz realmente não era o que gostava de fazer, e que gostaria muito de trabalhar como diretora porque teria muito mais possibilidades para criar. E usar minha sensibilidade. Quanto mais refletia sobre o assunto, mais me empolgada com a certeza de que era aquilo mesmo que queria fazer. Empolgada , fui pedir ao Paulo Ubiratan, a quem conhecia bem e que na época era o diretor geral de novelas da Globo, que por favor me conseguisse trabalho dentro da área de direção, que estava disposta a começar do zero, a ser assistente do assistente, fazer o que fosse preciso dentro da área de direção porque era o que realmente queria fazer. Então ele me ouviu e em seguida me disse bem taxativo: “Dilma, presta atenção no que eu vou te dizer: nunca! Eu disse nunca, nem você, nem nenhuma mulher vai dirigir aqui na Globo. Direção é coisa pra homem. Tem quer ser grosso, tem que gritar, falar palavrão… Nem você nem nenhuma mulher jamais vai dirigir aqui dentro“.

Naquele momento, o mundo desabou pra mim. Eu disse: “pra mim direção é sensibilidade , não tem nada a ver com gritar ou falar palavrão, mas você é o dono da bola, não posso fazer nada“. Fui pra casa e pela primeira vez na vida entrei em depressão profunda. Era horrível pensar que nunca ia poder fazer o que gostava só porque tinha uma vagina. Durante um mês, praticamente só dormia, não queria sair da cama, não tinha energia pra fazer nada e me perguntava porque tinha nascido mulher. “Nunca” era uma palavra muito forte, como um muro impossível de se ultrapassar.

Certa vez, depois de uns 30 dias de total inércia, acordei de madrugada, senti uma força imensa, sentei na cama e pensei: “Porque eu estou deixando a opinião de uma pessoa interferir negativamente na minha vida? Vou fazer um documentário mostrando como é ser mulher no Brasil. Vou começar do início, da primeira mulher que surgiu no mundo”. Aí fiz o vídeo “ Nossas Vidas”, que foi um sucesso, ganhou prêmios no Brasil e me levou pra Alemanha, onde acabei recebendo uma verba para desenvolver o roteiro do filme infantil ”Se a banana prender, o mamão solta”. “Nossas vidas” foi o início de um novo e maravilhoso ciclo na minha vida e carreira. Passei a agradecer ao Paulo Ubiratan pelo incidente, pois sem ele esse novo ciclo não teria acontecido.

Desde então, quando alguma coisa não acontece da forma que espero, acato porque sei que tudo tem uma razão de ser e a gente só entende o porque um tempo depois, nunca na hora em que a situação ruim acontece.

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista

Dilma Lóes: O prazer foi meu. Parabéns pelo site. É um banco de dados muito importante para os pesquisadores do cinema brasileiro


Entrevista realizada em junho de 2007

Começar de novo
Recém-separada de Thiago Lacerda,
Vanessa Lóes retoma a convivência com sua mãe, a atriz e cineasta Dilma Lóes, depois de um afastamento de dez anos

–Outro dia, ela foi ao banco brigar, porque tem uma lei no Rio que diz que você não pode esperar mais de 20 minutos na fila do banco – conta, orgulhosa, Vanessa Lóes sobre sua mãe, a também atriz e cineasta Dilma Lóes.
– Eu me meto em tudo, ainda mais porque estou vindo de um país em que as coisas funcionam – diz Dilma, 54 anos.
O diálogo travado num hotel na cidade gaúcha de Gramado pode parecer uma simples conversa entre mãe e filha, mas tem cara de retomada. Dilma Lóes voltou ao Brasil há cerca de um ano, após dez morando nos Estados Unidos. Ela se mudou para lá com o filho mais novo, depois que sua casa no Rio foi invadida por bandidos e um homem foi morto pela polícia em frente ao portão. Vanessa, que tinha 21 anos, quis permanecer no Brasil.
– Ficou um buraco. Uma das coisas que eu fico feliz de estar aqui é de poder...
– Fazer a gente se reaproximar, né?
–É como um resgate. Sentia que tinha esse buraco e que podia reparar. Que pos-so e quero. Por isso voltei e porque minha mãe ficou doente – emociona-se Dilma.
– Ela veio cuidar das mulheres da vida dela.
A volta, portanto, é como um recomeço para mãe e filha, que moram juntas. No momento, Vanessa está em férias. Recém-separada de Thiago Lacerda, ela iria encontrá-lo em Portugal, mas está sozinha de mochila nas costas pela Europa. No seu retorno, são vários os projetos com Dilma. Vanessa, que sempre achou que tinha olho de diretora – herança tanto da mãe quanto do pai, Victor de Mello –, quer dirigir um curta escrito por Dilma, Minha Mãe e Eu. Em outubro, elas finalizam as filmagens do longa de José Eduardo Alcazar, que começou a ser rodado há mais de duas décadas. Vanessa tinha 8 anos quando participou. E existe o projeto de montar uma peça musical de Dilma para crianças, Se a Banana Prender, o Mamão Solta. Além disso, a mãe, que abandonou a carreira de atriz nos anos 70, depois de novelas como O Bem-Amado e comédias no cinema, volta a atuar no longa Cafuné, de Bruno Vianna, que a encontrou na internet.
Filha e neta de atrizes, Vanessa resistiu em adotar a profissão e chegou a cursar a faculdade de Desenho Industrial. “A inconstância me incomodava”, diz ela. Mas, quando era pequena, ela às vezes entrava no palco ou ficava fazendo cena na frente do espelho. E admira o que viu do trabalho da mãe, que deixou de ser atriz quando Vanessa ainda era criança.
– Gosto de Ascensão e Queda de um Paquera, que meu pai dirigiu. Gosto do humor dela. Acho que nunca tinha falado isso, né, mãe? E nunca perguntei para ela qual trabalho meu ela mais gostou.
– Televisão, eu não acompanhei muito.
– Ela ficou dez anos fora. Tenho dez anos de carreira, ela ficou dez anos fora.
Dilma e Vanessa, mãe e filha, ainda têm muito o que colocar em dia.






Um grande beijo galera! beijos para todos os Anônimos e Aônimas e para
Taty,Camila,Mateus,Simone,Laura,Ricardo,Carol e Fernanda.

*Paula,a muito tempo atrás,eu fiz alguns mais nunca coloquei no you tube,fiz só por curtição,com algumas fotos que tinha,depois acabei perdendo  e não voltei a fazer outro,talvez,faça novamente,assim que me sobrar tempo para fazer um bem elaborado e com musicas legais.

*Valeria,entendo o que você está querendo dizer e também entendo a sua opinião,mais por outro lado,eu consigo entender a Vanessa.Ela é do tipo pessoa simples e tem o jeito dela,não é porque ela tem dinheiro e fama que tem que ostentar isso,para ela,é super importante está bem vestida e elegante em uma ocasião especial,como casamento,festa ou eventos em geral,mais no dia a dia,ela gosta de se sentir confortável ,independente da moda do momento.A Vanessa,não é o tipo de pessoa que se arruma para agradar aos outros,ela se preocupa em agradar a se mesma,então se ela está se sentindo confortável e gosta da roupa que está usando,para ela tanto faz o que as pessoas pensam. Mais  como já disse,entendo a sua opinião.
*Leo,eu não sei quando foi tirada essa foto,mais é a mesma que ilustra o comentário do Aguinaldo Silva.

Até a Próxima Pessoal !!!

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bacana!!!!!!!!!!!!

tatyana disse...

...a ultima entrevista da Vanessa p/ a revista 'caras',tem um quê de Dilma Loes....essa historia de nao esperar sentada,por uma oportunidade,correr atras dos sonhos,é herança da me dela,sem duvida....bjs,gente...

tatyana disse...

o casal 'sumiu' de novo,né???